Novas drogas sintéticas são até cem vezes mais potentes; conheça os perigos

15/05/2016 10:31
  • Drogas são vendidas como sais de banho e temperos para burlar a fiscalização


Uma série de drogas sintéticas são vendidas legalmente pela internet como incenso, sais de banho, fertilizantes e pílulas. Essas substâncias imitam a maconha, a cocaína e o LSD e escondem riscos ainda maiores à saúde, por serem até cem vezes mais potentes e causarem efeitos drásticos como surtos psicóticos, alucinações e danos cerebrais que podem levar à morte rapidamente.

O consumo destas substâncias se tornou alarmante na Europa e nos Estados Unidos, onde já são encarados como problema de saúde pública, e está crescendo na América Latina. No Brasil, algumas destas drogas já estão na lista de substâncias proibidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O problema é que, por serem feitas em laboratório e misturadas a substâncias lícitas não classificadas como entorpecentes, seu comércio é difícil de ser fiscalizado. Soma-se a isso o fato de algumas destas drogas nem serem detectadas em exames toxicológicos, o que não ajuda a criar prognósticos.

Sem muitas informações sobre como elas são feitas e sobre seus consumidores, fica difícil a tarefa de combater sua entrada nos países e de estudar todos os seus efeitos.

Maconha sintética

A maconha sintética, conhecida como spice (tempero, em inglês), K2, Hi-5 ou incenso do diabo é vendida na internet como odorizador de ambiente, geralmente com a frase "impróprio para consumo humano".

Ela tem como base moléculas produzidas em laboratórios clandestinos, que imitam e potencializam o efeito do THC (composto encontrado na maconha) e são aplicadas em folhas secas, semelhantes a temperos.

"Os laboratórios clandestinos produzem uma substância altamente potente em forma de gotinhas. Elas são espalhadas em um material herbácio, como ervas finas parecidas com um orégano, para serem fumadas. Assim a substância é diluída e faz efeito no usuário", explica o psiquiatra Leonardo Paim, membro do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, que fez um levantamento sobre três novas categorias de drogas sintéticas descobertas nos últimos anos.

Além de mais potente do que a versão natural, a maconha sintética causa efeitos devastadores na saúde de quem a usa e aumenta em 30 vezes a chance de internação.

"O que se vê com a maconha sintética são quadros mentais e físicos muitos intensos, como infarto, derrame cerebral, convulsões, alucinações, crises de pânico e psicose, porque ela é feita com substâncias que não se sabe como são produzidas. Isso é muito grave porque as pessoas não sabem o que estão consumindo", explica a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos, diretora do centro de tratamento de dependência química de álcool e drogas Villa Janus, no Rio Grande do Sul, que fez o levantamento com Paim.

Órgãos internacionais de repressão às drogas já notificaram pelo menos 134 tipos de canabinoides sintéticos no mundo, com base em apreensões, mas se acredita que o número comercializado seja bem maior.

Drogas vendidas como sais de banho

Outro tipo de droga sintética que se popularizou são os cristais feitos à base de catinona, composto estimulante extraído de uma planta africana chamada khat (Catha edulis), usada em vários países como agrotóxico e repelente, mas que tem efeito alucinógeno.

A droga é vendida como cristais de sais de banho ou em pó, dizendo-se ser um fertilizante. Conhecidas como "salt baths", "vanila sky", "miau miau" e "flakka" são cheiradas, fumadas ou injetadas. Podem ser vendidas como cocaína, causando efeitos semelhantes à droga clássica, como euforia e excitação sexual, porém de formas mais exageradas. Crises paranoicas, alucinações, agressividade e sentimento de perseguição também são efeitos ligados ao uso das catinonas.

"As catinonas mimetizam os efeitos da anfetamina, do ecstasy e da cocaína, substâncias estimulantes que podem ser até cem vezes mais potentes do que essas drogas originais. Já foram detectadas mais de 40 tipos", explica a psiquiatra.

Pior do que o LSD

Já o NBOMe, uma metanfetamina vendida em ampolas, pílulas ou em blotters (um papel embebido com um líquido alucinógeno), tem efeito mais mortal do que o LSD. Pode ser diferenciada pelo usuário pelo gosto do líquido, muito amargo, enquanto o LSD não tem gosto.

"A droga conhecida popularmente como NBOMe é da categoria das fenetilaminas, uma família de substâncias com características alucinógenas potentes, consumidas de modo semelhante ao LSD, mas com efeitos muito mais tóxicos e diversos relatos de óbitos ligados a essa substância", explica Paim.

Essa foi a mesma substância encontrada no sangue do estudante Victor Hugo Santos, 20, que se afogou na raia olímpica da USP após uma festa. Segundo relatos de amigos, ele tinha saído para comprar uma cerveja antes de sumir.

Outra morte de brasileiro motivada pelo uso de drogas sintéticas foi a do empresário catarinense Dealberto Jorge da Silva Júnior, 35, que caiu acidentalmente de um prédio na região de Cancún, no México, em janeiro, após sofrer delírios de perseguição. Segundo seu irmão, Fernando Luís da Silva, 33, que o acompanhava, ambos usaram drogas que acreditavam ser ecstasy. Em surto, Dealberto telefonou para familiares e amigos dizendo passar por uma ameaça de sequestro.

"O que mais assusta nestas drogas são as gravidades dos efeitos. Há muitos relatos de alucinações, gente fugindo de furacão, tendo quadros delirantes e de agressividade, além de quadros físicos muito graves como overdose, infarto, AVC, insuficiência renal e crises convulsivas", diz Ramos.Drogas são vendidas como sais de banho e temperos para burlar a fiscalização

Uma série de drogas sintéticas são vendidas legalmente pela internet como incenso, sais de banho, fertilizantes e pílulas. Essas substâncias imitam a maconha, a cocaína e o LSD e escondem riscos ainda maiores à saúde, por serem até cem vezes mais potentes e causarem efeitos drásticos como surtos psicóticos, alucinações e danos cerebrais que podem levar à morte rapidamente.

O consumo destas substâncias se tornou alarmante na Europa e nos Estados Unidos, onde já são encarados como problema de saúde pública, e está crescendo na América Latina. No Brasil, algumas destas drogas já estão na lista de substâncias proibidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O problema é que, por serem feitas em laboratório e misturadas a substâncias lícitas não classificadas como entorpecentes, seu comércio é difícil de ser fiscalizado. Soma-se a isso o fato de algumas destas drogas nem serem detectadas em exames toxicológicos, o que não ajuda a criar prognósticos.

Sem muitas informações sobre como elas são feitas e sobre seus consumidores, fica difícil a tarefa de combater sua entrada nos países e de estudar todos os seus efeitos.

Maconha sintética

A maconha sintética, conhecida como spice (tempero, em inglês), K2, Hi-5 ou incenso do diabo é vendida na internet como odorizador de ambiente, geralmente com a frase "impróprio para consumo humano".

Ela tem como base moléculas produzidas em laboratórios clandestinos, que imitam e potencializam o efeito do THC (composto encontrado na maconha) e são aplicadas em folhas secas, semelhantes a temperos.

"Os laboratórios clandestinos produzem uma substância altamente potente em forma de gotinhas. Elas são espalhadas em um material herbácio, como ervas finas parecidas com um orégano, para serem fumadas. Assim a substância é diluída e faz efeito no usuário", explica o psiquiatra Leonardo Paim, membro do Departamento de Dependência Química da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, que fez um levantamento sobre três novas categorias de drogas sintéticas descobertas nos últimos anos.

Além de mais potente do que a versão natural, a maconha sintética causa efeitos devastadores na saúde de quem a usa e aumenta em 30 vezes a chance de internação.

"O que se vê com a maconha sintética são quadros mentais e físicos muitos intensos, como infarto, derrame cerebral, convulsões, alucinações, crises de pânico e psicose, porque ela é feita com substâncias que não se sabe como são produzidas. Isso é muito grave porque as pessoas não sabem o que estão consumindo", explica a psiquiatra Fernanda de Paula Ramos, diretora do centro de tratamento de dependência química de álcool e drogas Villa Janus, no Rio Grande do Sul, que fez o levantamento com Paim.

Órgãos internacionais de repressão às drogas já notificaram pelo menos 134 tipos de canabinoides sintéticos no mundo, com base em apreensões, mas se acredita que o número comercializado seja bem maior.

Drogas vendidas como sais de banho

Outro tipo de droga sintética que se popularizou são os cristais feitos à base de catinona, composto estimulante extraído de uma planta africana chamada khat (Catha edulis), usada em vários países como agrotóxico e repelente, mas que tem efeito alucinógeno.

A droga é vendida como cristais de sais de banho ou em pó, dizendo-se ser um fertilizante. Conhecidas como "salt baths", "vanila sky", "miau miau" e "flakka" são cheiradas, fumadas ou injetadas. Podem ser vendidas como cocaína, causando efeitos semelhantes à droga clássica, como euforia e excitação sexual, porém de formas mais exageradas. Crises paranoicas, alucinações, agressividade e sentimento de perseguição também são efeitos ligados ao uso das catinonas.

"As catinonas mimetizam os efeitos da anfetamina, do ecstasy e da cocaína, substâncias estimulantes que podem ser até cem vezes mais potentes do que essas drogas originais. Já foram detectadas mais de 40 tipos", explica a psiquiatra.

Pior do que o LSD

Já o NBOMe, uma metanfetamina vendida em ampolas, pílulas ou em blotters (um papel embebido com um líquido alucinógeno), tem efeito mais mortal do que o LSD. Pode ser diferenciada pelo usuário pelo gosto do líquido, muito amargo, enquanto o LSD não tem gosto.

"A droga conhecida popularmente como NBOMe é da categoria das fenetilaminas, uma família de substâncias com características alucinógenas potentes, consumidas de modo semelhante ao LSD, mas com efeitos muito mais tóxicos e diversos relatos de óbitos ligados a essa substância", explica Paim.

Essa foi a mesma substância encontrada no sangue do estudante Victor Hugo Santos, 20, que se afogou na raia olímpica da USP após uma festa. Segundo relatos de amigos, ele tinha saído para comprar uma cerveja antes de sumir.

Outra morte de brasileiro motivada pelo uso de drogas sintéticas foi a do empresário catarinense Dealberto Jorge da Silva Júnior, 35, que caiu acidentalmente de um prédio na região de Cancún, no México, em janeiro, após sofrer delírios de perseguição. Segundo seu irmão, Fernando Luís da Silva, 33, que o acompanhava, ambos usaram drogas que acreditavam ser ecstasy. Em surto, Dealberto telefonou para familiares e amigos dizendo passar por uma ameaça de sequestro.

"O que mais assusta nestas drogas são as gravidades dos efeitos. Há muitos relatos de alucinações, gente fugindo de furacão, tendo quadros delirantes e de agressividade, além de quadros físicos muito graves como overdose, infarto, AVC, insuficiência renal e crises convulsivas", diz Ramos.